quinta-feira, 9 de abril de 2009

Para minha amiga Domme Malvada

Minha querida amiga Domme Malvada, gosta de cornos.
Ela me mandou esse conto de Nelson Rodrigues.
Então minha amiga e parceira em sua homenagem
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Nelson Rodrigues


Lua de Mel

Seguindo a sugestão do sogro, de não quis investigar as causas da mudança da esposa.
Tratou de extrair o máximo possível da situação, tanto mais que passara a viver num regime de lua-de-mel.
Dias depois, porém, recebe uma minuciosíssima carta anónima, com dados, nomes, endereços, duma imensa verosimilhança.
O missivista desconhecido começava assim: "Tua mulher e o Cunha...". O Cunha era, talvez, o seu maior amigo e jantava três vezes por semana ou, no mínimo, duas, com o casal.
A carta anónima dava até o número do edifício e o andar do apartamento em Copacabana onde os amantes se encontravam.
Filadelfo lê aquilo, relê e rasga, em mil pedacinhos, o papel indecoroso.
Pensa no Cunha, que é solteiro, simpático, quase bonito e tem bons dentes.
Uma conclusão se impõe: sua felicidade conjugal, na última fase, é feita á base do Cunha.
Filadelfo continuou sua vida, sem se dar por achado, tanto mais que Jupira revivia, agora, os momentos áureos da lua-de-mel.
Certa vez jantavam os três, quando cai o guardanapo de Filadelfo.
Este abaixa-se para apanhar e vê, insofismavelmente, debaixo da mesa, os pés da mulher e do Cunha,
numa fusão nupcial, uns por cima dos outros.
Passa-se o tempo e Filadelfo recebe a noticia: o Cunha ficara noivo!
Vai para casa, preocupadíssimo. E, lá, encontra a mulher de bruços, na cama, aos soluços.
Num desespero obtuso, ela diz e repete:
- Eu quero morrer! Eu quero morrer!
Filadelfo olhou só: não fez nenhum comentário.
Vai numa gaveta, apanha o revólver e sai á procura do outro. Quando o encontra, cria o dilema:
- Ou você desmancha esse noivado ou dou-lhe um tiro na boca, seu cachorro!
No dia seguinte, o apavorado Cunha escreve uma carta ao futuro sogro, dando o dito por não dito.
Á noite, comparecia, escabreado, para jantar com o casal. E, então, á mesa, Filadelfo vira-se para o amigo e decide:
- Você, agora, vem jantar aqui todas as noites!
Quando o Cunha saiu, passada a meia-noite, Jupira atira-se nos braços do marido:
- Você é um amor!

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom parceira! Nelson na veia!!